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segunda-feira, 16 de maio de 2011

A DITADURA DERROTADA I

Elio Gaspari – colunista da Folha de São Paulo e de O Globo - escreveu quatro livros baseados nos arquivos e gravações que lhe foram entregues por Golberi do Couto e Silva e por Heitor Ferreira, assessores diretos e íntimos do general-ditador Ernesto Geisel.
Os livros são: A Ditadura Escancarada, A Ditadura Encurralada, A Ditadura Derrotada e A Ditadura Envergonhada.
Eu li todos. Todos deviam lê-los. Minhas próximas postagens vão reproduzir uma pequena amostra do que escreveu Elio Gaspari em A Ditadura Derrotada. Sempre seguidas de algumas anotações minhas.
Divirtam-se!
Página 387

«Em 1974 chegou ao apogeu a política de extermínio de presos políticos.
As versões oficiais já não produziam mortos em tiroteios, fugas ou suicídios farsescos nas cidades.
Geisel sabia dessa política. Em janeiro tivera duas conversas com veteranos da luta contra o terrorismo. Uma, com o general Dale Coutinho quando o convidou para o Ministério do Exército.
Dias depois, numa prosa fiada com o chefe de sua segurança, tenente-coronel Germano Arnoldi Pedrozo, Geisel soube que um grupo de pessoas que viera do Chile e passara pela Argentina, havia sido capturado no Paraná. Pedrozo fora ajudante-de-ordens do marechal Castello Branco, passara pelo CIE e merecia do general não só a confiança, mas também estima.
- "Pegaram alguns?" perguntou Geisel.
- "Pegamos. Pegamos. Foram pegos quatro argentinos e três chilenos',  respondeu Pedrozo.
- "E não liquidaram, não?"
- "Ah, já, há muito tempo. É o problema, não é? Tem elemento que não adianta deixar vivo, aprontando. Infelizmente, é o tipo da guerra suja em que, se não se lutar com as mesmas armas deles, se perde. Eles não têm o mínimo escrúpulo."
- "É, o que tem que fazer é que tem que nessa hora agir com muita inteligência, para não ficar vestígio nessa coisa" falou Geisel.»
N.L.: Era a operação condor em plena atividade e com total apoio do ditador. Lutaram com armas piores e perderam a guerra. Não agiram com inteligência - isso seria querer demais dos torturadores - mas, sim, com covardia.
Lembrem-se da ação inteligente do capitão e do sargento que foram colocar a bomba no Riocentro naquele primeiro de maio. O sargento morreu no local.
A bomba explodiu no colo do capitão que nunca mais pôde transar com uma mulher. Acho que passou a dar o brioco.
E lembrem-se das bombas nas bancas de jornais, no gabinete do vereador. Isso sim foi terrorismo.
Mas, como justificou o general Leônidas: “O soldado é um cidadão de uniforme para o exercício cívico da violência. Só nós podemos fazer o exercício cívico da violência.”

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