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quarta-feira, 18 de maio de 2011

A DITADURA DERROTADA IV

Continuando:
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“O presidente não associou a busca do crescimento a nenhum projeto de mudança do regime. Pelo contrário, sustentou a estratégia de crescimento para preservar a base legitimadora da ditadura. Pisou no acelerador para manter o curso. A recessão era vista muito mais como um perigo político do que como uma probabilidade econômica.
O governo tinha pouco mais de um mês quando a Censura emitiu a seguinte ordem:
"De ordem superior, fica terminantemente proibida a divulgação, através de meios de comunicação social, escrito, falado e televisado, notícia, comentário, transcrição, entrevista, comparações e outras matérias relativas à recessão econômica. Fica igualmente proibida a divulgação de análises, resultados, ainda que hipotéticos, sobre recessão econômica".
Por absurda, a proibição causou estupor a Golbery e Simonsen. Não se pode dizer que ela tenha fantasiado as páginas econômicas dos jornais.
Sua importância está mais na origem do que nos resultados. Uma ordem desse tipo só saía da Polícia Federal depois de passar pelo ministro da Justiça, e dificilmente Armando Falcão tomaria tal iniciativa sem ter recebido recomendação do próprio presidente.
Na reunião secreta que teve com o Alto-Comando das Forças Armadas, em junho, Geisel esclareceu a natureza política dos riscos trazidos pelas incertezas mundiais: "Vivemos numa situação de crise econômica, com possibilidade de recessão. [...] Há um ambiente propício para a ofensiva da esquerda. Exploram tudo o que é possível, todos os velhos chavões são explorados'.
A inquietação do presidente relacionava-se também com o seu juízo da sociedade que governava. Pouco antes de tomar posse, rebatendo uma observação crítica de Heitor Ferreira a respeito das obras públicas no Nordeste, o general se expressava no vocabulário das conversas soltas:
"Então você depois vai agüentar a revolução no Nordeste. Quando aqueles trinta milhões de vagabundos esfarrapados vierem todo dia azucrinar, chatear e brigar e não sei o quê.”
Que moleza, heim? Havia riscos trazidos pelas incertezas mundiais, então proibia-se a sua divulgação. O povo não precisava saber o que ocorria no mundo. E, aí, investia na bolsa e perdia metade do dinheiro. Ou investia na Coroa Brastel e perdia tudo. Em compensação, agora, a imprensa cria as incertezas e aterroriza o cidadão com a volta da inflação galopante que jamais voltará.
Trinta milhões de vagabundos nordestinos esfarrapados? Geisel foi a voz da elite de ontem e de hoje.

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