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quarta-feira, 26 de março de 2014

CARLOS ZÉFIRO

Alcides de Aguiar Caminha (1921-1991) foi um servidor público federal, casado, cinco filhos, morador de Anchieta, que compôs um dos mais belos versos da MPB para a melodia de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito.

Tira o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor.

Todos conhecem a composição imortal A Flor e o Espinho, que tem mais de sessenta anos, e foi gravada por inúmeras cantoras. Talvez, alguns poucos conheçam seu outro grande sucesso - Notícia - gravado por Roberto Silva que pode ser ouvido abaixo.
Além de poeta e compositor, Alcides Caminha era a identidade secreta de Carlos Zéfiro, o grande professor de educação sexual nas décadas de 50, 60 e 70. O famoso escritor que povoou os sonhos eróticos da minha e, talvez, também da sua puberdade.
Carlos Zéfiro foi um romântico pornográfico com seus “catecismos”, livretos de 16 a 32 páginas com sexo explícito, que ele ilustrava e escrevia, vendidos em todo o país e que o ajudavam a manter a família. "Queria construir minha casa própria e colocar meus filhos na escola", disse ele certa vez.
Viveu incógnito por mais de quarenta anos para não perder o emprego no Ministério do Trabalho. Temia a lei que previa a demissão e a suspensão da aposentadoria de funcionários públicos envolvidos em escândalos.
Dono de uma das mais criativas e censuradas carreiras literárias no país, Zéfiro foi autor de mais de 600 revistas erótico-pornográficas, algumas com tiragem de 30 mil exemplares, produzidas de forma artesanal, vendidas dissimuladamente pelos jornaleiros e lidas em segredo, com fervor incontido, pela garotada onanista que as colecionavam e as passavam de mão em mão. Mãos, diziam pais e mães, onde podiam crescer pêlos, enquanto os religiosos afirmavam ser pecado.
Na década de setenta, para tristeza de seus leitores, após o episódio em que sofreu uma rigorosa revista policial, Zéfiro parou com sua literatura. Além disso, um general de Brasí­lia se indignou com as revisti­nhas e mandou investigar. Chegou até Hélio Brandão, o respon­sável pela edição das revistas. Hélio jamais revelou que Carlos Zéfiro era um pacato funcionário público federal. Após reinar no terreno fértil da sacanagem em plena ditadura militar, Alcides acabou desistindo do Zéfiro.
Toda uma geração descobriu o sexo através de Carlos Zéfiro, cujo texto e desenho a bico de pena possuía uma sexualidade inerente. Embora singelos e limitados, os desenhos mostravam mulheres bonitas e perfeitas que deixavam os garotos cheios de tesão. Olhando seus desenhos hoje, vejo que o único defeito delas eram os pentelhos. Mas, isto era normal naquela época. A sua crônica da vida privada retratava a realidade reprimida da sociedade suburbana carioca com empregadas domésticas, donas de casa, secretárias, professoras, solteiras e casadas, viúvas sedentas, desquitadas carentes, políticos corruptos e devassos, freiras pecaminosas. Todas as mulheres lascivas foram representadas em sua obra - para mim uma obra de arte - sempre com muita paixão e romantismo. Tinha muito a ver com Nelson Rodrigues que alguns pensavam ser o autor secreto dos “catecismos”, mas Zéfiro foi um artista com um estilo inconfundível que não chegou a conhecer o alcance de sua obra.
Alcides Caminha foi identificado em 1991 pela revista Playboy. Um homem modesto e humilde que somente se revelou devido a pressão de seus filhos.
Ganhou algum dinheiro, deu entrevista até no Jô Soares. Foi premiado com o Troféu HQ Mix pela importância de sua obra na Bienal de Quadrinhos.
O nobre educador deixou este mundo em 5 de julho de 1992, menos de um ano após ter sua identidade revelada.
Marisa Monte usou a arte do mestre na capa de seu álbum “Barulhinho Bom”, de 1997 e a MTV até criou uma vinheta totalmente inspirada nos “catecismos”.
Em 1999, em Anchieta, foi inaugurada a Lona Cultural Carlos Zéfiro, com show de Marisa Monte.
Em Janeiro de 2011, os trabalhos de Zéfiro foram expostos ao lado de outros quadrinhos eróticos de todo o mundo no Museu do Sexo, em Nova York. Hoje, Zéfiro é motivo de monografias e pesquisa de mestrado em faculdades, e tem vários artigos publicados na imprensa. Já foi motivo de peça de teatro e há um filme exlusivo sobre ele. Veja o filme AQUI.
Diversos autores já escreveram livros sobre Carlos Zéfiro que faz parte importante da história cultural do país. O antropólogo Roberto da Matta escreveu textos analisando seus quadrinhos e já se declarou fã dos “catecismos”.
A sem-vergonhice de um homem de família deixou muitas marcas na cultura nacional. Está por merecer uma homenagem da Academia Brasileira de Letras, cujos membros certamente foram também onanistas e devem ter saciado sua púbere excitação sexual com aqueles românticos “catecismos”.


N.L.: Veja o “catecismo” intitulado A Filha da Lavadeira AQUI.

4 comentários:

Eduardo disse...

Bem lembrado.Confesso minha saudade das revistinhas dele.Juventude né!?

Carlos disse...

Pai, tem outros na rede. Há algum tempo achei esse site: http://www.carloszefiro.com/capas3.php
Eles tentam compilar todos os catecismos dele e já tem vários que podem ser lidos online.
Bjs!

fábio disse...

Pai, que engraçado você postar o Léo Russo. Ele é filho de um amigão meu aqui do trabalho.

LACERDA disse...

Filho, tive que retirar o Leo Russo porque o vídeo foi retirado do YouTube. Coloquei o vídeo com o Roberto Silva.